quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Broas

Confesso que alimentava uma vaga esperança de ter sido perdoada. Atendendo ao acto generoso que eu dera como justificação para a "corrida infernal", à velocidade registada de 82km/h que, deduzida a margem de erro legalmente prevista passou a equivaler a uma infracção de 77km/h, numa rua que eu desconhecia ter perdido o estatuto de circular exterior há pouco tempo e onde , numa manhã primaveril ninguém mais circulava naquele momento, julgava-me digna duma amnistia natalícia.
Quando o assunto já estava arrumado na gaveta das calendas, eis que me surge o aviso de registo a levantar nos CTT.
A penitência começava no dia seguinte. Estacionamento pago para não perder tempo. Ao retirar a senha, sai-me o 346. Olho o écran e vejo registado o 229. Fico fula mas espero mais de uma hora.
Quando chega a minha vez, calha-me um funcionário simpático que, depois de me ver assinar o aviso e verificar a minha identidade, ainda me dá outro documento para nova assinatura. Comento o castigo. Rimos e ele avisa-me do provável montante da "porrada". No mínimo, são 120. É o costume.
Suspiro pelo belo vestido que não vou comprar.
Suspiro pela penúria do meu país que me entra nos bolsos mesmo que me porte bem.
Suspiro pelas broas que um coelho safado me vai comendo nas orelhas, com passinhos doces que me seduzem o olhar mas se transformam em garras de falcão.
Hoje fui ao mb debitar a coima. Aproveitei para fazer outros pagamentos. No final, o agrado era tanto que deixei cair a papelada toda no chão e, com outros à espera, lá fui apanhando cada talão e cada aviso.
A "lembrança" ficou paga. Agora, exijo que seja encontrada a melhor aplicação para a verba enviada. Ficarei atenta à gestão do orçamento, com todos os meus radares.
Haja saúde e Paz neste Natal, para todos.
Marimbo-me para o resto... como o outro.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A Christmas Story - Journey Of The Angels/Silent Night by Enya.wmv



E foi assim que a minha amiga R. quis desejar-me as Boas Festas. Feliz Natal!

Natal, e não Dezembro




Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

David Mourão Ferreira

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Balanço

Em resposta a dois "apelos", ontem, fui a Lisboa.
Recebera, de uma instituição de que sou sócia, um pedido de actualização dos dados testamentários que havia estabelecido nos remotos anos 80 e que careciam, agora, de assinatura presencial ou reconhecida (a idade a impor prova de vida).
A viagem impôs-se ainda mais neste dia, pelo convite para a partilhar na ida, com alguém que adoro. Momentos antes da partida, já ficava memorável por me ter sido dada uma grande notícia mas, sobre esse assunto, não falo, por agora.
Já na grande cidade, após o cumprimento das formalidades que tinha por objectivo, pude apreciar a baixa e o seu morno movimento àquela hora, num dia véspera de Dezembro, com o sol tímido e receoso do seu brilho.
Despertei para a época natalícia que se avizinha, com o comentário de duas idosas, na passagem de peões, observando a ausência de enfeites luminosos, no Rossio. Nas ruas, no metro, sobravam pedintes. Nas poucas lojas onde entrei, algumas esperando-me, apenas um ou dois clientes compradores.
Na espera do autocarro, deu para entender a conversa telefónica de provável recém advogada lamentando-se por ir ter mais um julgamento na calha, enquanto continua à espera pelos pagamentos em falta.
Durante a viagem, ouço falar da ansiedade sentida pela necessidade da entrega dum trabalho com prazo a expirar, sob risco de ir por água abaixo a avaliação do esforço já realizado (novas oportunidades, deduzi).
E, assim, num dia em que saí da concha, deu para meditar nas alterações que se vão registando na nossa sociedade. Deu para adivinhar até em mim, o efeito que o tempo e os tempos produzem sobre cada um de nós e como somos levados a ver "o filme", com novo olhar.
No dia em que o orçamento estava a ser aprovado, não vi nem ouvi ninguém dizer que vira um só dos políticos no activo a observar e a sentir o pulsar da vida, o ritmo do chamado "país real". Decerto a inquietude da realidade os desassossegaria demasiado.
Remeto-me ao campo dos afectos e às vivências da manhã deste dia tão significativo, para acreditar no Futuro.
Afinal, a Vida é feita de partidas e chegadas, numa renovação constante.
Vão-se a crise, a usura e os desequilíbrios orçamentais capazes de nos obrigar a deixar de celebrar este feriado do 1º de Dezembro, evocativo do esforço que nossos avós fizeram para nos legar a restauração da independência da nossa Portugalidade, tudo em nome da tirania do dinheiro.
...

Salvemos o euro!
Ganhemos o Euro!

Num sonho arrojado vejo-me, indecisa, de bolsos vazios, a debater-me perante a possibilidade de ganhar o euro numa final de desforra, Portugal /Grécia, cantando o Hino Nacional e tirando a língua, escarninha, aos "grandes" desta Europa.