terça-feira, 28 de agosto de 2012
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Comércio tradicional ou a ratice portuguesa
Disposta a terminar com os lamentos e saudades de uma chave que foi necessário redistribuir, recorro à minha maior boa vontade e dirijo-me à única loja do ramo que conhecia na cidade para aquisição duma cópia.
À entrada, o dono, apenas com um olhar, assegura-me que será possível fazer o serviço e retira-se para o interior do estabelecimento.
Aguardo a minha vez, enquanto um jovem termina um serviço e despacha o cliente que me antecedia, perguntando-lhe se desejava factura. Reparo na observação, ouço a resposta do cliente, penso com os meus botões que o moço já vai orientadinho no negócio e, sem saber como ou talvez sim, lembro-me dos discursos sobre a existência, as causas e as consequências duma tal crise que temos (todos...) de pagar.
De seguida, o prestável moço pega na minha chave e procura um modelo da mesma, rodando o mostruário que havia em frente do balcão. Roda, roda e diz-me, com franqueza de iniciante, que o modelo está esgotado.
- Tinha de ser!, respondo-lhe eu.
Lá de dentro, surge o velho e sabidão comerciante. Retira a minha chave da mão do rapaz e diz-lhe:
- Isso nunca se diz, em frente do cliente!
Deixa-me alerta, enquanto roda e compara modelos de chaves. O jovem, inexperiente na ratice do negócio, argumenta ainda que o lugar daquele modelo está vazio. O velho assenta a minha chave noutra chave e noutra e noutra. E o moço diz:
- Essa é mais comprida, avô.
Então é a minha vez de argumentar:
-Veja lá, eu não quero uma chave que não abra ou não feche.
O típico "chico-esperto" português, responde-me que o cliente nunca sai prejudicado. Se houver prejuízo a casa assume.
Respondo-lhe que não me interessa voltar para reclamar o serviço.
Danado com a ingenuidade do neto e com a cliente a aperceber-se da sua ratice, o velho larga a chave no balcão e confessa-se sem paciência para tanto.
Pego na chave e despeço-me com a recomendação:
- Não tem paciência, reforme-se!
Volto ao estacionamento, lixada como o nosso primeiro ou mais ainda. A senhora observa que tenho pouco a pagar pelo breve período em que lá deixei o carro.
Conto-lhe a razão da pouca demora. Ela informa-me de uma outra loja onde se copiam chaves. Vou até lá. Já cá canta uma nova cópia. Daqui a pouco, veremos se abre e fecha, para felicidade de um outro velhinho que merece de mim todo o esforço para o ver contente.
Se não servir, resta-me o consolo de ter sido bem atendida no engano e, só isso bastará para não ter razão de reclamar prejuízo.
À entrada, o dono, apenas com um olhar, assegura-me que será possível fazer o serviço e retira-se para o interior do estabelecimento.
Aguardo a minha vez, enquanto um jovem termina um serviço e despacha o cliente que me antecedia, perguntando-lhe se desejava factura. Reparo na observação, ouço a resposta do cliente, penso com os meus botões que o moço já vai orientadinho no negócio e, sem saber como ou talvez sim, lembro-me dos discursos sobre a existência, as causas e as consequências duma tal crise que temos (todos...) de pagar.
De seguida, o prestável moço pega na minha chave e procura um modelo da mesma, rodando o mostruário que havia em frente do balcão. Roda, roda e diz-me, com franqueza de iniciante, que o modelo está esgotado.
- Tinha de ser!, respondo-lhe eu.
Lá de dentro, surge o velho e sabidão comerciante. Retira a minha chave da mão do rapaz e diz-lhe:
- Isso nunca se diz, em frente do cliente!
Deixa-me alerta, enquanto roda e compara modelos de chaves. O jovem, inexperiente na ratice do negócio, argumenta ainda que o lugar daquele modelo está vazio. O velho assenta a minha chave noutra chave e noutra e noutra. E o moço diz:
- Essa é mais comprida, avô.
Então é a minha vez de argumentar:
-Veja lá, eu não quero uma chave que não abra ou não feche.
O típico "chico-esperto" português, responde-me que o cliente nunca sai prejudicado. Se houver prejuízo a casa assume.
Respondo-lhe que não me interessa voltar para reclamar o serviço.
Danado com a ingenuidade do neto e com a cliente a aperceber-se da sua ratice, o velho larga a chave no balcão e confessa-se sem paciência para tanto.
Pego na chave e despeço-me com a recomendação:
- Não tem paciência, reforme-se!
Volto ao estacionamento, lixada como o nosso primeiro ou mais ainda. A senhora observa que tenho pouco a pagar pelo breve período em que lá deixei o carro.
Conto-lhe a razão da pouca demora. Ela informa-me de uma outra loja onde se copiam chaves. Vou até lá. Já cá canta uma nova cópia. Daqui a pouco, veremos se abre e fecha, para felicidade de um outro velhinho que merece de mim todo o esforço para o ver contente.
Se não servir, resta-me o consolo de ter sido bem atendida no engano e, só isso bastará para não ter razão de reclamar prejuízo.
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