Passo naquela estrada desde que me conheço. Há semanas, comecei a ver, ao longe, um camião de troncos. Depois, achei que a sua permanência já se prolongava, por ali.
Num destes dias da semana, ao desfazer da curva, no final da descida, notei que a paisagem tinha ganho uma amplitude verde, maior do que o habitual. Algo mudara e o meu olhar estranhou ainda antes de eu compreender e notar a ausência das velhas árvores (para mim, choupos) que sempre vi a ladearem a vala da linha de água que separa os vinhedos.
Um só tronco desmembrado, ainda erguido e, em redor, caídos, os pedaços cortados do que fora um velho arvoredo a resistir ao alcatrão e ao betão, na sua missão de dar testemunho das minhas mais remotas memórias.
Senti um baque. Embora já fosse irreconhecível, agora, então, nunca mais a antiga "curva do Casimiro" será a mesma. Nunca mais voltará a ser o troço denso e misterioso que alimentava tantos medos, perigos e suposições, quase tornando intransponível o caminhar das gentes de outrora, rumo à cidade que nos ficava tão distante e tão difícil de alcançar.
Rasgou-se, por completo, o "Bojador" da minha terra, da minha infãncia.
Muitos dirão que tudo se faz pelo "desenvolvimento" mas, desenvolvimento passa também pelo respeito pela Natureza. Passa pela consciencialização de todos nós na prevenção do perigo. Passa pelo empenhamento dos responsáveis políticos, pela disponibilidade de meios, pela formação humana.
Vejo o derrube das árvores pela acção do homem. Ouço e leio as notícias da tragédia dos fogos ateados por mãos criminosas e, em tudo isso descubro a pobreza de horizontes e de valores que é preciso combater.
Não podemos ignorar.
.
sábado, 31 de agosto de 2013
Velhas Árvores
Velhas Árvores
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das porcelas...
O homem, a fera, e o insecto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Olavo Bilac, in "Poesias"
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das porcelas...
O homem, a fera, e o insecto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Olavo Bilac, in "Poesias"
Subscrever:
Mensagens (Atom)