quinta-feira, 7 de abril de 2011

Socrinhas, uma nova Amizade

Acabara eu de "passar o chão a pano". A janela da varanda ficou escancarada ao radioso sol enquanto eu, no quarto, me vestia decentemente para poder sair à rua. Depressa o meu ouvido me deu sinal de quebra de rotina. Aquele som estava demasiado cá dentro e fui ver. Com a minha voz o menos esganiçada possível, cumprimentei a visita com a maior simpatia. A fome e o cansaço davam-lhe um ar de "alma penada" apesar do amarelinho que saltava à vista e do verde da esperança que deixavam adivinhar uma figura garbosa e bela. Ponderava entre o risco de acreditar nesta bicha que lhe surgia e o apoio de que necessitava. Tal e qual um qualquer 1º ministro elegante, mas hesitante em aceitar o convite das migalhinhas com que sujei o chão, ainda molhado. Entre entradas e saídas "em frente às câmaras", decidiu-se por entrar, sem se debater e, num ápice, o prendi nas minhas mãos.
Levei-o até à chaveninha da água e bebeu sequioso. Aceitou, desajeitado, provar as migalhas que eu tinha na mão. Procurei com ele uma caixa de sapatos. Deitei-lhe uns bagos de arroz e lá ficou o meu amigo coberto de plástico furado, enquanto eu saí. A varanda ficou aberta para o caso de ele optar ser livre.
Demorei-me +ou- 3h. Pelo caminho, abasteci-me de comidinha adequada à sua espécie. Procurei uma casinha vazia que outrora pertencera a um canário muito amado e voltei a casa.
Ao sentir-me, senti-o nos seus gorjeios como se me dissesse da fome que ainda tinha. Encostei a caixa à porta do seu novo lar já abastecido de comida e água. Mudou-se sem problemas. Agora, descansa de papo cheio, sem mais barulhos.
Não sei se por coincidência, vi nele imagem do meu País. Senti-me ao jeito dum FMI porque as regras já estão impostas. Não quero porcarias nem barulheira. Bastam as despesas e o trabalho que me vai dar. A minha "generosidade" obriga-me a ser "solidária." Mal sabe o meu Socrinhas que em troca da certeza alimentar, dificilmente voltará a voar, parapeito fora...a não ser que arrisque e se sujeite à incerteza dos céus.
Socrinhas, meu periquito amigo, este nome assenta-te que nem uma luva quer sejas menino ou menina.
Porta-te bem e não te faltará um lar!...

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