segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Até vais de carrinho

Fomos inseparáveis durante mais de uma dezena e meia de anos. Vivemos a mesma ânsia de liberdade. Para onde eu queria ir, lá estava ele disponível e, mesmo quando se armava em teimoso ou "sr do seu nariz", suportava as minhas resmunguices submisso, como ninguém.
Um dia, comecei a olhá-lo de lado e reparei que cada vez mais, se parecia comigo. Andava descolorido, fora de moda, barulhento, desengonçado. Direi até, envelhecido.
Começaram, aí, as nossas querelas e desamores.
-Abre a janela! Fecha a janela!
-Não abro! Não fecho!
Neste vaivém de conversas, ele perdeu a cartada.
Deixei-me seduzir por outro mais belo e actual, com ar vistoso e perfumado!...
Então, cuidadosa no cumprimento dos meus deveres fiscais procurei, no virtual, informações sobre o imposto de circulação a pagar pelo meu novo brinquedo.
Como riso de mafarrico, ressalta-me o espectro do meu velho calhambeque. Havia um calote de selo esquecido, pendente há mais de 3 anos!
Duvidei da minha capacidade de literacia. Pedi ajuda na interpretação que fizera. Não havia engano. Eu tinha falhado. Hoje, na repartição, ouço a sentença.
Apesar da separação efectiva, há que pagar e... com coima.
A conter "os azeites", espero que termine a quebra do sistema informático. Recordo-me, entretanto, da caçada do radar que ainda percorre os "trâmites legais" mas não tardará a escaldar-me os bolsos, também.
Já a manhã ia bem alta quando as contas apareceram, simples de entender.
Coima, selo antigo, novo imposto... Lá se foi um corte de mais de centena e meia de "aéreos". E, de novo aquele riso escarninho a soar-me, agora, na consciência.
-Queres carrinho novo? Toma. Paga. Ah!...e, para não esqueceres o velhinho calhambeque, trata de guardar o recibo do calote, durante os próximos 5 anos!!!


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