Pela Primavera, Mãe, largavas a lida da casa, a agulha e o dedal e levavas-me contigo até ao "bocadito", o terreno onde as batateiras reclamavam ser sachadas.
De lá, como se estivesse no alto do mundo, eu esperava ansiosa aquela voz do descampado que sempre respondia a tudo o que eu experimentasse gritar, com energia.
-Oláaa!
-Oláaa!
-Mãaae!
-Mãaae!
Depois, era o partilhar todo o fascínio da magia da descoberta.
Uma vez, por entre sorrisos, veio a explicação.
-Não há ninguém. É só o eco!É o som da tua voz que volta para trás, por causa da outra encosta.
...
Hoje, Mãe, dia dos teus 90 anos, sinto falta de me encher de fantasia e pedir ao meu eco que não me engane na resposta e me traga, de retorno, a tua voz, a tua presença.
Preciso de voltar ao "bocadito" mas, já não é possível.
Quem dera que fosse apenas pelo rasgo que a nova auto-estrada desferiu naquele espaço, levando-o na voracidade do progresso.
-Saudaade!
-Saudaade!
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