sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Procissão da Memória


Na caminhada, primeira,

Já vem ali a chegar

A velhinha do correio,

Cada dia carregada,

Com as cartas do Destino

E o peso da Vida inteira.

Depois, olhando o chão,

Já lá vem o sem-abrigo

Livre como mais ninguém!

Só a cabine da luz lhe guardou a solidão

E lhe soube avaliar o peso da sua Cruz.

A música da Procissão

É feita do batucar da forja

Domando o ferro, no fogo.

De lá, vejo cada enxada, avermelhada,

Já pronta para cavar a terra seca ou molhada,

O ganha pão do meu povo.

Nas águas dos teus ribeiros

Paro só para escutar.

Há cânticos ao desafio,

Há bater de travesseiros

Nas pedras lisas do rio

Onde as mulheres vão lavar.

Mais atrás, lá no Pombal,

Com moinhos de papel

Bem colorido,

O velho das alegrias

(Vive na minha lembrança)

Com Setembro é chegado.

De baraço enleado, numa dança,

Puxa o carrito, atulhado, com trapos e fantasias,

Gatos presos e um cão.

Vende sonhos de criança

Rodando ao sabor dum sopro

E…

Com tanta devoção

Entrega a Deus sua Esperança

Ao passar da Procissão.

Roga-se a Paz aos que foram

E a Benção duma Ajuda

Vinda do Céu até nós,

Numa singela Oração

De filhos, pais e avós.

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