terça-feira, 28 de setembro de 2010

Inseguranças

Reparei que os dois miúdos, de mochila às costas, espreitavam a porta envidraçada, mesmo ao lado do multibanco onde me dirigia. Não deviam ter mais de 10 anos. Tinham aspecto de crianças bem cuidadas, tipo "miúdos classe média". Ao retirar o dinheiro, ouvi um deles dizer ao outro:
- Sabes, a solução era morrer.
Retive a frase, olhei-os e disse-lhes:
- Os meninos da vossa idade não devem dizer essa frase. Devem dizer: a solução é viver e com alegria.
Perguntei-lhes de seguida:
- Precisam de alguma coisa?
Um deles respondeu:
- Só queria que a minha mãe viesse agora. Estou cheio de sede.
Perguntei-lhes se queriam que fosse ali ao café da esquina pagar-lhes uma água.
De imediato, os dois pareceram embaraçados, dizendo em uníssono que não. Que não precisavam de nada. Ao notar a sua reacção, sempre a caminhar enquanto nos íamos afastando dali, disse-lhes que não tivessem medo de mim. Eu até tinha sido professora. Agora, é que já não era. Um deles, incrédulo e em tom interrogativo, respondeu: - professora? E, zás , toca de caminharem rua acima, mais lestos, sem olharem para trás.
Só entrei no carro depois de os ver virar a esquina e fiquei a pensar no tamanho do fosso que a desconfiança e o medo podem gerar na sociedade actual, sobretudo nos mais novos.
Calculo, agora, que um deles teria a mãe a trabalhar naquele banco fechado mas o certo é que ninguém se abeirou, vindo lá de dentro.
Como é preocupante ouvir dois garotos discorrerem seja do que for, pensando na morte como solução.
É preocupante o efeito causado pelo martelar de notícias "tipo casa-pia" e outros similares mas, também, o estar avisado para os riscos é verdadeiramente necessário.
É preocupante a mudança que a sociedade de hoje nos revela e os abismos que constrói.
É PRECISO, FAZ-NOS FALTA, comunicação, diálogo, confiança, boa-fé, segurança!

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