segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Quando falta a Luz

A neura e a sensação de isolamento que a longa falha de energia eléctrica me proporcionou, ontem de tarde e noite dentro, contrastaram com o alívio, a serenidade e bem-estar que senti ao ver repostas as funcionalidades básicas que me foram inacessíveis, durante várias horas seguidas.
Então, num assumo de humilde reflexão, menos brava, já, vieram-me à memória outros tempos quando essas básicas funcionalidades que tanto reclamei, agora, eram executadas com a maior normalidade, à custa de tantos sacrifícios pessoais.
E, se se ousava pensar no despontar de uma nova necessidade, como era ponderada cada decisão, sujeita que estava ao recurso que o magro orçamento familiar iria possibilitando.
E, como era lenta a chegada de cada pequena comodidade sonhada por tanto tempo!
Recordo, como se fora hoje quando, ainda criança, chegou a electricidade à nossa casa. Lembro-me, até, da figura do electricista andando por lá a estender os fios, colocando interruptores, pendurando os pequenos abajours, cada um deles recheado com a respectiva lâmpada. E, quando a obra terminou, recordo... a sensação única que foi viver, já noite, a magia do 1º clique na cozinha e sentir aquela explosão de luz intensa, tão diferente do mortiço candeeiro a petróleo. Que alegria! Foi como se aquele pequeno espaço tivesse triplicado a sua área e trouxesse à miúda que eu era, aquilo que , hoje, eu descreveria como um mar de Luz!
Recordo... a chegada lá a casa, da 1ª telefonia. Por entre relatos de futebol nas tardes de domingo, teatro infantil, radiofónico, da Madalena Patacho, notícias, música e canções, tantas horas de prazer, sonho e criatividade me proporcionou essa janela aberta ao mundo!
Recordo... a substituição do ferro de engomar, com brasas, pelo 1º ferro eléctrico "Rowenta" comprado a prestações semanais ao vendedor ambulante que ganhava a vida calcorreando as aldeias com o "chamariz da modernidade", facilitadora no desempenho das tarefas.
Recordo... lembro, tantas limitações e esforço por coisas que agora são "nadas" e fazem parte do trivial mais comum de todos nós. Foram essas vivências que fizeram de mim aquilo que sou. Não recordo com saudade. Lembro, apenas, tanto obscurantismo, tanto isolamento, tantos sacrifícios como aqueles que já vivi e conheci noutros iguais, para que nunca mais falhe a Luz!
Quero Luz, na minha casa.
Quero Luz, na minha terra.
Quero Luz, no meu País.
E... que ninguém me diga que sou impertinente.
Quero que haja o direito à Luz, já, para mim e para todos.

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