segunda-feira, 21 de março de 2011

Dia Mundial da Poesia

Poesia”

Dia da Poesia é hoje a novidade da gente!

Dia de hipocrisia, na verdade, já que a bomba inteligente

Com sucesso, diz quem manda,

Varre as portas de Bagdad,

Num louco acesso pelo cheiro do petróleo,

Que tresanda!

E só cai e só vem,

Com perícia genial e de “modo generoso”,

Onde convém ao lucro do poderoso.

Dia da Poesia poderia ser

Se,

O menino iraquiano, como o anglo-americano,

Pudessem, hoje, adormecer em Paz,

Sem papão no telhado,

Sem bombas por todo o lado!

Mas não!

Reina agora a confusão

Trespassando a nossa alma

Quando, antes de dormir, bem à hora do jantar,

A caixa da televisão

Nos mostra a guerra a surgir,

Na maior calma, a passar,

Misturada com novela,

Qual festança de primor,

Qual orgia de horror,

Com rigor na precisão

Que os homens puseram nela.

E o “canal da liderança”

Lá se afirma, na esperança

De convencer uma amorfa clientela

Que vê a guerra a nascer,

Sem sentir a dor que há nela!

2003

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Para Sempre
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade, in 'Lição de Coisas'

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