segunda-feira, 30 de maio de 2011

Ruivacos, que somos


Era uma vez um conjunto de indivíduos. Todos iguais, quer fossem comparados com outros seus irmãos situados mais a norte ou a sul, a este ou a oeste desta Península Ibérica. Porém, quem os aprendesse a olhar na sua especificidade, com muito amor e perseverança, haveria de descobrir como são únicos, singulares, resistentes, preciosos e belos, guardando em si, ainda, características dos seus ancestrais de há milhões de anos.
Outrora, o seu mundo era cristalino, composto de riachos e regatos, de valas e fundões de água fresca. Então, eram felizes mesmo quando deslizavam na corrente ou no remanso das águas, quando se refrescavam nas sombras dos choupos e se perturbavam com a rapaziada que mergulhava as mãos por entre os ramos e as pedras, na tentativa de os "pescarem" como se fossem "troféus de alto-mar." Quase sempre, eram eles que ganhavam essa "guerra" com escorregadia facilidade. Mas...
Os tempos mudaram.
A ânsia dos homens pelo lucro, a cegueira que se lhes abateu perante tudo o que é simples, singelo e natural, foi causando a morte, a destruição, a pobreza.
- Ruivacos do Oeste?
- Já não há por aqui!
- Isso era há muito tempo atrás...
- Ainda me lembro de os ver nas águas limpas do rio.
- Regatos, riachos? Morreram envenenados com merda e venenos.
- Frescas sombras, choupos? Secaram ou foram derrubados.
Enquanto decorrem folclores, enquanto nas feiras se apregoam produtos mágicos, alguns, poucos, silenciosamente, com muito esforço e muita incompreensão, caminham, percorrem distâncias carregando artes e engenhos e, determinados, vão recolhendo os últimos sobreviventes.
Por outro lado, esses mesmos sobreviventes, "agradecem" a diferença da realidade que lhes é proporcionada e... vão-se reproduzindo.
Numa manhã primaveril, de sonho real, num troço de rio purificado e transparente, uns quantos indivíduos descobrem o seu novo/velho habitat. Uma nova oportunidade de recomeço.
A pouco e pouco, ainda que com muitas dificuldades e carácter precário, em competição com poderosas questões económico/financeiras, vão surgindo alertas de iniciativas prioritárias que será necessário implementar para bem de todos nós.
...E ainda são tão poucos os que vão despertando para o que é essencial.
...E ainda são tantos os que ignoram as consequências de tanta indiferença.
Ruivaco do Oeste: Tu, como eu, fazes parte duma população que neste eco-sistema, sobrevive...à mercê de muitos "pseudo-poderes".
Ainda há Esperança.
O Amanhã já, ontem, começou.

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