quinta-feira, 26 de agosto de 2010

De rastos, na busca de um rasto

O puto fugiu à escola mesmo tendo cartão vermelho e... ninguém o impediu.
A mãe do puto nunca o levou à tal consulta de psicologia que lhe foi aconselhada, em tempos. Faltavam os 35 euros.
O puto não sabe ler, deseja ter computador mas as coisas têm que se comprar à medida das posses.
Em casa, o puto tem comidinha. O puto é meigo mas sai, só para se juntar às más companhias.
O puto já levou porrada do pai e não serviu de nada.
Os polícias até são amigos da mãe do puto mas ninguém dá rumo. Segurança social, nada. Tribunal, nada.
O puto precisa dum colégio capaz de lhe encaminhar os passos. Em casa, não há esperanças, nem soluções. À mãe do puto custa-lhe essa ideia mas custa mais ver o descaminho e o seu grito sem eco.
Os irmãos do puto nunca foram como ele.
A mãe do puto tem dúvidas. E se o recurso à notícia no jornal vai ser motivo para o puto se desencaminhar, ainda mais? Eles dizem que tal pretensão "é só para fazer andar o tribunal"... mas...
Afinal, o puto ainda só tem 14 anos. Talvez não seja, ainda, um caso perdido.
Que puto de país é este para quem a formação dos jovens não é a prioridade de todos nós?
Que puto de país é o meu, onde o povo só espera o milagre de um apoio quando expõe a sua dor, em praça pública, nos jornais ou na tv?
Vai uma pessoa mandar limpar a lama do carro porque incomoda e traz consigo o desassossego de tanto lamaçal que deixa tantos indiferentes e tanto custa a varrer da alma.
Talvez seja isso: o mandar "lavar", o "deixar de fazer", o "esperar que alguém faça"...
Afinal, também eu só consegui responder ao caso com um voto de Boa Sorte, para o puto.
Triste país onde o Futuro se atola na presunção e indiferença de todos nós, deixando no lodo a juventude que lhe serve de garante.
Numa manhã de Abril, sonhei um "Rasto de Rumo" que se me perde agora, no olhar!

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